Clínica da urgência psicológica – parte 2

No post anterior, “Clínica da urgência psicológica – parte 1”, fiz uma breve reflexão conceitual sobre o tema. Neste post, pretendo refletir o seu sentido prático de intervenção.

Então vejamos: se a pessoa deu entrada em um hospital; se a pessoa recebeu uma notícia sobre o falecimento de um familiar; se a pessoa foi agredida física e/ou psicologicamente; se a pessoa sofreu impactos de um acidente ou desastre; se a pessoa terminou um relacionamento afetivo; se a pessoa foi demitida do emprego que necessitava; se a pessoa desconfia de uma traição ou foi traída; se a pessoa está sob estresse elevado; ou quando a pessoa chega no consultório — precisamos estar atentos ao primeiro contato com esta pessoa, porque ele é crucial dentro de uma perspectiva de cuidado em saúde mental – da urgência psicológica.

Existem muitas pesquisas que comprovam a potência do primeiro contato/encontro entre a psicóloga e a pessoa em sofrimento. O impacto positivo em sua saúde. Podemos afirmar que o processo da urgência psicológica é rico de elaboração quando acolhido, compreendido, ouvido realmente.

Podemos afirmar que o processo da urgência psicológica é rico de elaboração quando acolhido, compreendido, ouvido realmente.

Estar voltada prioritariamente para a urgência, e não para a mudança de personalidade (ou processos considerados profundos), desloca a intervenção da psicóloga para o momento da experiência (para o centro da pessoa; para a originalidade do encontro), e possibilita que a pessoa se atualize em seu movimento interno de forma genuína. Isso ajudaria a pessoa a entrar em contato com a sua urgência com mais inteireza. No entanto, são poucas as pessoas que possuem esta oportunidade; e profissionais preparados para tal intervenção/contato/encontro – facilitação.

A potência existente neste momento único cria muitas possibilidades de cuidados: psicoterapia, procura por auxílio médico, autocuidado, e outros tipos de suportes. Tem casos em que a pessoa se sente contemplada em sua urgência com apenas uma conversa com a psicóloga.

O que gostaria de enfatizar é a consciência sobre a importância do primeiro contato ou dos atendimentos pontuais — a presença — que coloca a psicóloga como uma facilitadora da promoção da saúde (mental).

Estar voltada prioritariamente para a urgência, e não para a mudança de personalidade (ou processos considerados profundos), desloca a intervenção da psicóloga para o momento da experiência (para o centro da pessoa; para a originalidade do encontro)

Como podemos ver, a clínica da urgência psicológica oferece uma proposta de intervenção condizente com as crescentes demandas complexas da sociedade. Acredito que estas novas demandas sejam o motivo pelo qual dispositivos com atendimento psicológico único ou pontual, presencial ou virtual – o plantão psicológico – têm crescido e ganhado a atenção da comunidade científica, das organizações e dos próprios usuários dos serviços.


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